Atitudes & Negócios por Ronan Mairesse

Futebol não é para gestores amadores

Trabalhei em ambos os clubes, o Grêmio e o Internacional, e essa experiência me deu uma visão única sobre suas culturas organizacionais. Embora desde pequeno fui incentivado pelo meu pai, colorado ferrenho, a torcer pelo Internacional, não posso deixar de admirar e respeitar o Grêmio pela sua cultura sólida e valores bem definidos, que transcendem as mudanças de liderança.

Desde que trabalhei lá, aprendi a não torcer contra o Grêmio e até nos Gre-Nais penso: que vença o melhor, até porque nos últimos anos tenho atletas de mentoria nas duas equipes.

A grande diferença entre os dois clubes é como eles lidam com a política interna. No Internacional, a política muitas vezes se assemelha à política partidária dos governos públicos. Não estou dizendo que governos públicos não tenham bons gestores, conheci vários que poderiam ser CEOs de empresas. Quero dizer que a cultura organizacional é volátil e sujeita a mudanças abruptas com cada novo presidente que assume o cargo, assim como na política troca o prefeito de quatro em quatro anos. Essa mudança de valores é extremamente confusa para os profissionais que trabalham no clube, que diga-se de passagem, são extremamente competentes, mas as diretrizes e valores mudando a cada gestão deterioram mais ainda a identidade organizacional.

Por outro lado, o Grêmio mantém uma estabilidade notável em sua cultura, independentemente de quem esteja no comando. Eles têm uma visão clara, missão e valores que são comparáveis aos que encontramos em grandes empresas. Veja bem, não estou falando de resultado e sim de como as pessoas sentem e tomam decisões no ambiente de trabalho. Um dos valores  é a “raça” e a “paixão” que é cultivada desde a base.

Não importa quem esteja em campo ou qual seja a situação, os atletas entram em campo com o compromisso de “dar o sangue” pelo clube. Vai funcionar sempre? Lógico que acontecem erros, como o que levou o Grêmio à segunda divisão, mas você concorda comigo que o Inter é imprevisível? Porque não sabemos como o clube se comportará até conhecermos o gestor.

É importante destacar que isso não significa que o Internacional não tenha atletas igualmente dedicados, mas a cultura de valores competitivos nobres não é clara, o que prejudica até mesmo na formação do atleta na base, pois a cada mudança de liderança, novos valores podem ser implementados e muitas vezes de maneira inconsciente.

Uma característica notável no Grêmio é a presença de um CEO, que orienta que cada departamento desenvolva projetos que contribuam para o crescimento do clube. Como exemplo, tive o privilégio de contribuir com Gabriel Cabistani, ex-funcionário do Grêmio para a implementação do futebol feminino de base quando o CEO solicitou a escola do Grêmio a apresentar melhorias para o desenvolvimento do departamento.

No Internacional, infelizmente, o foco muitas vezes recai mais na política interna e nas eleições para se manter no poder. Houve gestões excepcionais no passado, como a de Fernando Carvalho e Dallegrave, que eram líderes com valores sólidos e implementaram sua própria cultura. No entanto, para um crescimento sustentável e orientado por profissionais, o Internacional precisa considerar uma mudança significativa em sua gestão, deixando a política de lado e dando prioridade ao desenvolvimento do clube. Dúvida?

Veja o que está acontecendo com o Botafogo após ser assumido por um grupo de investidores. Essa transformação pode ajudar o Internacional a atingir seu pleno potencial e a se destacar não apenas nos campos de futebol, mas também na administração e na cultura organizacional.

Ronan Mairesse

Consultor e Mentor organizacional

A mais de 10 anos ajudando empresas, líderes, atletas, clubes e seleções na busca da excelência!

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