Caixa lança nova linha de crédito imobiliário, vinculada ao índice de inflação

20/08/2019

Por Clic Paverama | contato@clicpaverama.com.br | Clic do Vale
Em Notícias Gerais

A Caixa Econômica Federal anunciou, nesta terça-feira (20), uma nova linha de crédito imobiliário que terá como referência o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um dos índices de inflação. Essa taxa não irá substituir as praticadas atualmente, que têm a Taxa Referencial (TR) como referência: a opção caberá ao cliente.

As simulações já podem ser realizadas no site da Caixa. A nova linha de financiamento estará disponível a partir da próxima segunda-feira (26). A nova linha terá prazo máximo de financiamento de 360 meses e quota limite de 80% do valor do imóvel.

Na cerimônia, que contou com a presença do presidente da República Jair Bolsonaro, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que essa opção foi escolhida por ser um índice mais utilizado no mercado.

—  Nós mantemos todas as linhas com a taxa referencial de juros e essas linhas existem dois modelos, e estamos oferecendo uma linha nova. De novo, quem escolhe é o cliente — afirmou. 

As taxas que serão apresentadas, com o acréscimo do IPCA, serão de 2,95% a 4,95%. Para efeito de comparação, a taxa de juro praticada atualmente varia entre 8,5% a 9,5%, mas ela é acrescida da TR, que no momento está zerada.

— Outra vantagem desta operação é que a Caixa vai poder vender parte desse crédito de uma maneira mais fácil. Vamos securitizar parte do que a Caixa "originar". Isso vai ser muito importante para o mercado de capitais — disse o presidente da Caixa.

Detalhes:

 Segundo a Caixa, o saldo devedor será atualizado pelo IPCA, a exemplo do que ocorre com a TR, hoje zerada. As mudanças valem para o SFH (Sistema Financeiro de Habitação), para imóveis até R$ 1,5 milhão e que permite o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), e para o SFI (Sistema Financeiro Imobiliário), para aqueles acima desse valor e sem a possibilidade de uso do Fundo.

A taxa mínima da nova linha, oferecida a clientes com melhor perfil de risco, será de IPCA + 2,95% ao ano, enquanto a máxima ficará em IPCA + 4,95% ao ano. Hoje, o banco, que detém mais de 70% do crédito habitacional do país, cobra juros de 8,5% a 9,75% ao ano mais TR nas principais linhas de crédito imobiliário -no programa Minha Casa, Minha Vida, os juros são menores.

 Os contratos poderão ter prazo de até 360 meses e valor máximo financiado de 80%. Para obter o financiamento, o cliente só poderá ter, no máximo, 20% de renda comprometida -hoje, o percentual é de 30%. Ou seja, a nova linha será oferecida a quem tem mais folga no orçamento e, portanto, risco menor de dar calote.

A mudança foi aprovada em reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) realizada na última semana.

Riscos:

 Para especialistas, a oscilação do IPCA pode tornar o financiamento mais arriscado e caro ao cliente, principalmente pelo longo prazo do crédito -o contrato pode ter duração de 35 anos. O IPCA é mais agressivo, respondendo mais rapidamente a alguma turbulência econômica. A TR é menos instável e hoje está zerada. O saldo devedor, portanto, não sofre correção na prática. 

Com a nova linha de crédito, a Caixa quer emprestar mais, ancorando-se na possibilidade de empacotar esse crédito e vendê-lo a investidores — que vão avaliar se vale correr o risco de inadimplência de clientes, em vez de optar pela segurança de um título público que, hoje, remunera IPCA mais 3% ao ano, em média.

Recentemente, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, estimou que poderá emitir até R$ 100 bilhões em papéis lastreados com financiamentos imobiliários. No primeiro ano, esse número seria de R$ 10 bilhões.

R$ 1 trilhão em créditos:

Com a mudança, a Caixa se alinha à estratégia do governo de reacender a economia —indicador do Banco Central sugere que o Brasil está em recessão técnica, apontando dois trimestres seguidos de queda do PIB (Produto Interno Bruto).

Cálculos conservadores indicam que a Caixa poderia dobrar sua carteira de crédito habitacional, passando dos atuais R$ 449 bilhões, no primeiro trimestre deste ano, para quase R$ 1 trilhão.

Nos EUA, o mercado de securitização imobiliária causou uma das mais graves crises financeiras mundiais. Em 2008, grandes bancos foram à lona por terem adquirido títulos podres de hipotecas americanas.

Em junho, a Caixa anunciou redução de 1,25 ponto percentual nas taxas de juros para financiamentos imobiliários concedidos com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que hoje responde por quase 40% do total dos financiamentos. Também abriu rodadas de renegociação de contratos em atraso concedendo, em alguns casos, até 90% de descontos de juros. Essa campanha atingiu 2,3 milhões de pessoas.